Esta República vai de férias
Voltaremos em setembro com reflexões sobre a união das esquerdas, obras que estão a pautar o debate económico dos EUA e continuaremos a nossa série sobre a semana de quatro dias.
Esta newsletter começou há praticamente um ano e meio, quando o governo anterior anunciou o pacote Mais Habitação. Esse não foi o motivo da nossa criação, mas ainda assim é um ponto útil para fazermos um curto balanço.
O pacote do executivo Costa tem bastante simbolismo, na medida em que resume grande parte das suas limitações e contradições, e marca o início do seu fim. Desde lá, muita coisa mudou na política nacional e internacional, e algumas coisas mudaram nesta República.
Sem nunca descurar da Economia e da Política, ensaiamos novos registos, com digressões no Futebol, Literatura, Cozinha, Entrevistas, e exploramos o papel dos jovens no debate nacional.
Se és daqueles que conhece a República há pouco tempo, convidamos-te a ler a nossa página de apresentação.
Para quem nos conhece há mais tempo, queremos aqui apresentar como temos reestruturado a nossa forma de publicar. Sem alterarmos o objetivo desta newsletter, promovendo uma escrita que põe o estrutural acima do cíclico, criamos duas novas modalidades: as Curtas e os Ciclos. Estas são respostas assimétricas ao mesmo problema com que nos vamos deparando: encaixar o que queremos dizer em textos de quatro ou de cinco páginas.
Nos casos em que o queremos escrever são pequenas reflexões, ou apenas exposições de dados com um encaminhamento breve, temos as Curtas. Nestes casos, preferimos evitar encher as caixas de email dos nossos seguidores, por isso são apenas disponibilizadas na página do Substack. Se a nossa newsletter fosse um fábrica de têxteis (digamos, de pijamas) estas partes são as sobras de tecido que ficam de lado, que apesar de não serem vendidas, podem ter uma segunda vida noutros usos. As Curtas podem ser encontradas dentro do seu separador próprio da nossa página.
Do outro lado temos o problema oposto - quando o que queremos dizer faz parte de um contexto alargado. Por um lado demasiado longo para encaixar numa só publicação, por outro lado um tema demasiado desafiante para esperarmos sequer aproximar-mo-nos de uma conclusão definitiva de uma só vez. Assim, passámos a ter o que temos chamado de Ciclos - séries de textos, que apesar de serem independentes uns dos outros, ambicionam seguir um fio condutor comum.
Abaixo apresentamos várias das Curtas e dos Ciclos que temos publicado. Aqui transcrevemos parte da Curta que introduz um dos nossos Ciclos mais recentes, e talvez o mais ambicioso: Propostas modestas para a economia portuguesa.
Num mundo cada vez mais caracterizado por múltiplas crises, novos atores no xadrez global e o renascimento da política industrial, o debate nacional parece ter-se ossificado. As discussões do nosso modelo de desenvolvimento são dominadas por pontos percentuais do IRC e business roundtables que são um completo vazio programático.
A esquerda, mesmo tendo em conta todas as limitações da moeda única e pouco espaço mediático que tem, não se pode limitar à defesa do Estado Social e denunciar o modelo de desenvolvimento proposto pela direita. Por isso, é urgente e necessário retomar o desenvolvimentismo sempre presente nos momentos em que a esquerda - nas suas variadas formas - conseguiu exercer poder com relativo sucesso.
Este ciclo de publicações, que ambiciona debater propostas que contribuam para um novo modelo de desenvolvimento nacional, arrancará com um texto focado no crescimento da indústria de carros elétricos chinesa e o que esta pode significar para Portugal.
Entendemos que este é um projeto ambicioso, com debates que exigem muito mais do que a equipa dos Pijamas sabe. Assim, encorajamos os nossos leitores a utilizarem a caixa de comentários para contribuir para os tópicos que abrimos.
Quanto a outros Ciclos, começamos com as eleições legislativas deste ano, em que dedicamos um total de nove textos. Analisamos temas como o projeto político de Pedro Nuno Santos, o legado de Cavaco Silva e o papel ideológico do economista Ricardo Reis em formar falsos consensos científicos. A partir desta série resultou a oportunidade de escrever um artigo para a Jacobin por parte de dois autores da República, revista de referência de esquerda dos Estado Unidos da América.
Meses depois, aproveitando as comemorações dos 50 anos da Revolução de Abril, para falar do legado político-económico que tornou o golpe de 25 de Abril numa verdadeira Revolução e como a nova maioria ambiciona revertê-lo.
Enquanto demos esses dois ciclos como concluídos, isso não significa que não voltaremos a estas temáticas, e neste momento temos dois ciclos em aberto. O ciclo de propostas para a economia portuguesa, mencionado acima, e um sobre a “semana de quatro dias”. Focado no projeto piloto português, em que dois textos já foram publicados (aqui e aqui), e que contará com novos textos após a nossa pausa durante o mês de agosto. Estes artigos serão publicados de forma faseada, de forma a não nos tornarmos monotemáticos e reconhecendo que nem todos os nossos leitores têm interesse nos mesmos tópicos.
AS NOSSAS CURTAS
Como algumas das Curtas que destacamos dos últimos meses, começamos por explorar o choque entre a valorização pujante de investimentos em Inteligência Artificial e as metas de redução de gases com efeito de estufa.
Seguindo o mesmo estilo de ChartBook, do historiador-económico Adam Tooze, resumimos a evolução (para pior) do Reino Unido nos 14 anos de governação dos Conservadores numa sequência de gráficos.
No rescaldo das eleições para o Parlamento Europeu, questionamos se faz sentido falar-se da Iniciativa Liberal como um partido de ideias, tendo em conta o sucesso que teve com um estilo ultra personalista seguido nas eleições para o Parlamento Europeu.
A governação de Javier Milei na Argentina tem-se mostrado ser a aplicação de uma Terapia de Choque “anarcocapitalista”. A semana passada, alguns meios de comunicação anunciavam que a lua de mel entre Milei e o “mercado” tinha terminado. Em dezembro alertamos que este é um filme que já vimos várias vezes no país de Maradona.
A RENTRÉE
Apesar de o futuro ser sempre incerto, há algumas coisas que podemos prometer para além da continuação dos ciclos de textos que já iniciados.
Quando lançámos a Newsletter, o contexto político era de um Partido Socialista no poder com dificuldades em conciliar as políticas necessárias na habitação e noutras áreas com os interesses dos setores à direita. Agora estes contam com um governo mais à sua medida, e a esquerda vê-se na oposição nas principais instâncias do poder nacional.
Já com a vitória parcial da esquerda em França, o debate nos próximos tempos parece inclinar-se para a “união das esquerdas”, com as eleições municipais do próximo ano em vista.
Não iremos focar-nos nas eventuais lideranças, modelos de outros países, ou no papel/responsabilidade de cada partido específico. Consideramos que pouco temos a acrescentar nesse campo, que já é excessivamente populado (geralmente com pouca qualidade). Num trabalho que já iniciamos com o Ciclo de propostas para a economia portuguesa, iremos procurar contribuir para um debate centrando no modelo de desenvolvimento que as esquerdas, unidas ou separadas, podem trazer para a praça pública.
Iremos continuar com críticas a livros, com duas na gaveta, num registo positivo. Trade Wars are Class Wars [Guerras comerciais são lutas de classes], de Matthew Klein e Michael Pettis, obra do campo progressista que aparentemente encontrou um improvável fã em JD Vance, candidato a vice presidente de Donald Trump. Radical Hamilton, de Christian Parenti, foca-se no legado desenvolvimentista de Alexander Hamilton, primeiro secretário do tesouro cujo pensamento tem sido revivido nos recentes debates de política industrial e comercial dos Estados Unidos.
No entretanto, recomendamos o Pedalada, vodcast do blog Ladrões de Bicicletas, nossos camaradas no campo contrahegemónico do debate da economia e política. O Pedalada já conta com quatro episódios e tivemos a honra de participar em dois deles: um sobre a situação política em França e outro sobre o ensino de economia.
Ao longo deste período, também retomamos as parcerias com meios independentes nacionais, neste caso com a revista online Shifter. Operamos num modelo de não exclusividade com meios de comunicação. Por isso, se tiveres interesse em colaborar connosco, entra em contacto via o nosso email.
A evolução que vamos fazendo na República é a nossa resposta ao crescente interesse e apoio que temos recebido. Devemo-lo a ti. Obrigado por leres, comentares e partilhares a República dos Pijamas. A crítica construtiva, mesmo que negativa, é bem-vinda.
Mais uma vez, obrigado pelo apoio e pelas partilhas.
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Até setembro,
Os Pijamas
Pensar, escrever, editar e publicar demora tempo e exige sacrifícios. Nós, os Pijamas, fazemo-lo à margem das nossas rotinas laborais, sem receber por isso. Fazemo-lo por serviço público e, sobretudo, para desconstruir a narrativa do economês dominante e reflectir sobre caminhos alternativos para a nossa vida colectiva.
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