O crescimento verde é inteligente?
Os sucessos da bolsa nos últimos meses chocam com os objetivos de redução de emissões de gases com efeito de estufa
Nos últimos meses podemos destacar dois acontecimentos em mundos aparentemente distintos. Por um lado, a NVIDIA mostrou-se como a estrela dos investimentos bolsistas em ações de empresas.
Aquela que era apenas mais multinacional tecnológica entre tantas hoje, disputa o lugar cimeiro para ser a maior empresa cotada do S&P500, principal índice bolsista. Enquanto a Tesla foi a empresa que trouxe retornos abismais a quem apostou na empresa de Elon Musk por volta do ano 2000, hoje é normal um investidor lamentar-se não ter colocado o seu dinheiro na empresa conhecida pelo seu hardware e processamento gráfico. Um investidor que tivesse colocado 100 euros na NVDIA no ínicio de 2023 veria agora o seu dinheiro multiplicado quase por 10.
Dentro de todo o índice bolsista do S&P500, a NVIDIA não é apenas o maior contribuinte para os novos recordes atingidos, como a sua contribuição para este tem poucos precedentes.
No outro lado desta história, encontramos outras tecnológicas, como a Alphabet (Google) e Microsoft . As tecnológicas que conhecemos melhor têm vindo a rasgar a suas promessas de neutralidade carbónica, e a culpa cai sobre a Inteligência Artificial. As promessas destas de atingirem a neutralidade carbónica por volta de 2030 têm sido postas de lado, com a Alphabet a registar um aumento das emissões em 48% face a 2019 e a Microsoft de 30% face a 2020.
Qual é o culpado? A dita Inteligência Artificial. Apesar de não nos parecer evidente na hora de utilizar serviços como o ChatGPT, a atividade dos Data Centers que processam os nossos queries é cada vez mais intensiva em energia. Como apontando por uma análise do Goldman Sachs “um query do ChatGPT precisa de quase 10 vezes a energia elétrica que o uma pesquisa na Google”. Segundo outra fonte “um query do ChatGPT usa aproximadamente tanta eletricidade como a que é precisa para acender uma lâmpada por cerca de 20 minutos”.
As utilizações dos mega processamentos de dados vão bem além daquilo que fazemos nos nossos portáteis e os Data Centers são mesmo a principal atividade que se estima aumentar a procura por energia nos próximos anos.
A nível global, os Data Centers já consomem mais eletricidade do que países como Itália e Espanha.
As duas histórias acima casam-se quando tentamos explicar o sucesso da NVIDIA. Enquanto durante décadas a empresa foi conhecida entre os nerds pelas suas placas gráficas para o gamming, hoje essa tecnologia de processamento encontra a sua fronteira de expansão na fome que as novas aplicações de Inteligência Artificial têm por poder de processamento, e claro, por energia.
Se olharmos para o desempenho do S&P500 nos últimos meses, além da NVIDIA, podemos ver que o principal contributo para o valor do índice bolsista parte das empresas tecnológicas. Embora a expansão da Inteligência Artificial não tenha ditado o agigantamento dessas empresas, contribui para o crescimento recente.
Enquanto se tornou popular destacar os crescimentos impressionantes de capacidade de produzir energia elétrica nos últimos anos, estes desenvolvimentos evidenciam que para estes se refletirem numa redução real de emissões de gases com efeito de estufa entram em rota de colisão com a fortuna das capitalizações bolsistas.
Estas questões não podem ser jogadas para segundo plano quando debatemos a expansão de energias renováveis e a atração de Data Centres em solo nacional.