Estaremos aqui em 2024 para o combate político
Voltamos em 2024 com novidades e iniciaremos o ano focados nas eleições.
Primeiro que tudo, obrigado por nos leres e (talvez) subscreveres. A República dos Pijamas foi fundada em fevereiro deste ano. Desde lá, algumas coisas mudaram em Portugal, e outras continuam na mesma trajetória.
António Costa passou de primeiro ministro com uma maioria absoluta para um primeiro ministro demissionário. A crise habitacional continua e o SNS mantém-se no centro do debate político. Talvez tenhamos uma decisão sobre o aeroporto, quem sabe.
Para nós da Republica dos Pijamas, os últimos meses foram de muito trabalho. Expandimos as nossas redes sociais (podes seguir-nos também no Instagram, Twitter e Threads); criamos uma nova secção de curtas onde colocamos materiais mais pequenos do que os textos habituais; e tivemos o enorme privilégio de entrevistar o economista Branko Milanovic, umas das nossas referências intelectuais contemporâneas.
De olhos postos no desenvolvimento do país, olhámos para a Websummit e a estratégica que esta (não) representa para o crescimento do país. Como resposta aos possíveis caminhos para o verdadeiro progresso, escrevemos sobre a indústria de videojogos na Escócia. Com um relógio que não pára para tomar as medidas necessárias para conter a crise climática, exploramos como a economia neoliberal moldou um tipo sofisticado de negacionismo climático. Mantivemos o nosso compromisso em trazer o pensamento de intelectuais estrangeiros para a língua portuguesa, como mostra o ensaio de Ståle Holgersen sobre os conflitos em torno do que deve ser a transição energética no campo ecossocialista. Continuamos a dar um foco político à agenda da mobilidade, tanto com a análise histórica da British Rail, como também com a reflexão sobre os perigos da agenda tecno-solucionista supostamente desprendida de preconceitos ideológicos.
Com o fim da era Costa, fizemos um balanço da área que consideramos ter sido central na governação, a habitação.
Temos continuado a crescer e ver o nosso trabalho reconhecido e valorizado, e isso é o mais importante. Sabemos que este crescimento não era possível sem os muitos leitores que nos divulgam, e por isso estamos agradecidos por todas as partilhas, desde o boca a boca, aos grupos de whatsapp e às publicações nas vossas redes sociais.
UM INÍCIO DE ANO COM ELEIÇÕES
Este é o nosso último email deste ano mas a caminhada continua em 2024. Dadas as circunstâncias políticas, vamos iniciar o ano a concentrar as nossas energias a temas mais ligados à campanha eleitoral e ao combate político. Dito isso, não pretendemos mudar o estilo de análise estrutural ou a frequência das nossas publicações.
Apesar da volatilidade típica do período eleitoral, podemos já garantir algumas coisas. Se fores subscritor, irás receber no teu email uma análise daquilo que é o nosso entendimento do realmente representa a tentativa de Pedro Nuno Santos chegar a primeiro ministro, o real legado de Aníbal Cavaco Silva como Primeiro Ministro, e várias análises dos vários partidos de direita que se lançam a eleições, tendo como base de análise a governação de Pedro Passos Coelho de 2011 a 2015.
SUGESTÕES DE LEITURA PARA AS PRÓXIMAS SEMANAS
Alguns de vocês são subscritores desde do início da newsletter, outros juntaram-se recentemente. Dada a vossa diversidade, fizemos uma compilação temática de textos nossos que combinamos com artigos externos a condizer.
- A INOVAÇÃO, O PLANEAMENTO E O ESTADO
Com os eventuais conflitos entre governo e a privatizada ANA sobre o novo aeroporto, é útil recordar o papel de antigas políticas públicas como a Portugal Telecom na modernização da economia portuguesa.
Outro caso interessante de inovação de ponta com o Estado na dianteira, é a CEITEC, empresa pública de semicondutores brasileira. Os semicondutores têm sido um dos principais pontos de tensão entre Estados Unidos, China e Taiwan. A CEITEC teve a um passo de ser liquidada pelo governo Bolsonaro, decisão que foi recentemente revertida por Lula. O Jornal GGN tem feito uma cobertura extensa sobre este tema, que pode ser consultada aqui.
- A INTERNET SOCIALISTA
Em seis meses iremos celebrar coletivamente os 50 anos de Abril. Este ano fizeram 50 anos de um evento histórico que teve pontos em comum e pontos divergentes com a revolução dos cravos: o golpe de Pinochet no Chile, que acabou com o governo e a vida de Salvador Allende.
Evgeny Morozov, um dos principais pensadores da tecnologia, lançou “The Santiago Boys”, um podcast de nove episódios que explora a relação entre tecnologia e poder político. Para complementar (ou substituir) a série áudio, podes ler o nosso artigo sobre este episódio histórico e a entrevista de João Gabriel Ribeiro (Shifter) a Morozov.
- MOBILIZAÇÕES NUM MUNDO EM CHAMAS
Com meses marcados por mobilizações climáticas em que ativistas subiram a parada das mobilizações contra Estado e empresas, trouxemos a nossa visão sobre o que essas ações representam.
Primeiro, analisámos a ação em que o ministro do ambiente foi o alvo e como esta se enquadra num mundo em que a política está morta e resta-nos esperar pelas iniciativas empresariais.
Depois, olhámos para um episódio com uma deputada do Chega que mostrou que, apesar da subida eleitoral da extrema-direita, é no movimento climático que se encontra quem defende políticas pelas quais está disposto nas quais realmente acredita.
Como leituras, recomendamos dois textos da publicação de economia política Phenomenal World. Em primeiro lugar o texto de Kate Mackenzie e Tim Sahay que faz um ponto da situação de ebulição global na qual nos encontramos. Em segundo, os dilemas que Espanha enfrenta na expansão das energias renováveis, em especial das energias solares, que trazem ao de cima aspetos de políticas públicas e que se esbatem com ramificações territoriais profundas pela mão de Paolo Gerbaudo.
- COZINHAR E COMER NO SÉCULO XXI
Em setembro enquadramos o como cozinhamos, e como isso é influenciado pelos desenvolvimentos no mundo, em especial no domínio da comoditização. A viagem vai desde o legado familiar das famílias ítalo-americanas às bifanas adulteradas de Gordon Ramsay.
Para os interessados neste tema, sugerimos reflexões parecidas sobre cozinhar na era atual, encontramos os seguintes textos de Lily Sánchez e Wessie du Toit.
- ELEIÇÕES PELO MUNDO FORA
Não é só Portugal que passa por eleições. A meio do próximo ano o México terá a sua eleição presidencial, em que o atual presidente (Andres Manuel Lopez Obrador) não se pode candidatar, dado o regime de mandato único de seis anos. O atual presidente, conhecido como AMLO, teve um mandato extremamente popular, embora sempre restringido pelo contexto do país sob o neoliberalismo. Se queres conhecer um pouco do projecto político do actual presidente, podes ler a nossa tradução do texto “The AMLO Project”, da autoria de Edwin F Ackerman.
Os eleitores dos Países Baixos foram às urnas no mês passado. O partido de extrema direita de Geert Wilders foi o mais votado. Tal como em Espanha, as negociações para formar o novo governo devem levar meses. Se queres saber mais sobre os temas que tiveram no centro da campanha eleitoral recomendamos The Dutch Earthquake, de Servaas Storm.
O Reino Unido terá eleições no próximo ano, após 13 anos de governos conservadores marcados pela estagnação salarial e caos económico - em especial no caso do curtíssimo governo Liz Truss -, é dado quase como certo que o Partido Trabalhista voltará ao poder. Ainda assim, Keir Starmer (líder dos trabalhistas) é um líder relativamente impopular e em queda dada a sua posição em relação a Gaza. O que se pode esperar de um governo Starmer? O economista Lukasz Krebel argumenta que as regras orçamentais (arbitrárias e) autoimpostas pelos trabalhistas irão apenas reforçar os problemas estruturais da economia britânica.
- CONSERVADORISMO DE ESQUERDA?
Apesar de as eleições não estarem na iminência na Alemanha, o colapso do Die Linke parece contrastar com a ascensão do projeto da sua antiga líder, Sahra Wagenknecht. Auto descrita como “conservadora de esquerda”, é por vezes comparada à AfD (extrema direita) devido a posições em assuntos como emigração. Ao mesmo tempo, esta faz uma tentativa de reaproximação da esquerda à classe trabalhadora, enquanto se destaca com um criticismo (notavelmente escasso na Alemanha) à política externa encostada ao interesse dos EUA. Em dois artigos na New Left Review, duas visões contrárias, de Joshua Rahtz e Oliver Nachtwey, são apresentadas. Estas ajudam-nos a entender esta dinâmica que vai ganhando espaço.
- OUTRAS REPÚBLICAS
A Causa Pública, recém criado Think Tank do campo da esquerda, lançou o seu primeiro relatório. Da autoria de Alexandre Mergulhão, este trabalho demonstra como o sistema fiscal português penaliza os trabalhadores e os mais pobres, quando comparado com os rendimentos de capital.
Como sempre, recomendamos o trabalho dos Ladrões de Bicicletas.
DESEJOS DE BOAS FESTAS
Se fores fazer compras tardias de natal, ou se simplesmente procuras recomendações de livros, espreita as nossas recomendações de livros. A lista foi lançada este verão, mas garantimos que os livros não perderam a relevância (antes pelo contrário).
Desejamos boas festas aos nossos leitores, e como prometido, em 2024 vamos continuar por aí.
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Pensar, escrever, editar e publicar demora tempo e exige sacrifícios. Nós, os Pijamas, fazemo-lo à margem das nossas rotinas laborais, sem receber por isso. Fazemo-lo por serviço público e, sobretudo, para desconstruir a narrativa do economês dominante e reflectir sobre caminhos alternativos para a nossa vida colectiva. Se gostaste do que leste, apoia-nos. É simples e não te vai custar um cêntimo: subscreve e partilha a nossa newsletter e os nossos artigos. Esse é o maior apoio que nos podes dar.