Sugestões de releitura: campanha eleitoral nova, textos velhos
Entre a Páscoa e a pré Campanha eleitoral, trazemos quatro textos do ano 2024. Como pontos comuns, foram escritos a pensar na passada campanha eleitoral e a sua atualidade mantém-se
Com a campanha ainda no seu início, é cedo demais para concluir sobre as diferenças e semelhanças entre esta e a do ano passado. Contudo, há paralelos difíceis de ignorar. A averiguação preventiva do Ministério Público a Pedro Nuno Santos e o ciclo de debates rápidos - marcados por extrapolações mal feitas de políticas do norte da Europa, seguidos de pontuações dadas por comentadores - repetem os vícios da campanha anterior, para um contexto cada vez mais diferente.
No ano passado a seca no Algarve (onde o Chega foi o partido mais votado) mostrava as fragilidades do modelo económico-social para um um mundo em crise climática. O “Choque Trump” é o seu equivalente deste ciclo eleitoral. Enquanto o governo espanhol visita a China e o Vietname, e os líderes europeus vão a uma cimeira na China em julho, o arranque da campanha teima em ignorar qualquer debate sobre o posicionamento de Portugal entre estes blocos económicos.
Com estes pontos em mente, destacamos estes textos para (re)leitura. Como muito do que escrevemos aqui, esperamos que tenham sobrevivido ao curto teste do tempo.
A MODERAÇÃO DE PEDRO NUNO SANTOS?
A generalidade dos comentadores têm identificado uma “moderação” em Pedro Nuno Santos. Como escrevemos o ano passado, a trajetória do Secretário Geral do PS tem um fio condutor mais claro do que aquilo que possa parecer. Para entender o que poderá ser uma governação conduzida por Pedro Nuno Santos, a etiqueta de extrema-esquerda ofusca mais do que ilumina. Na nossa opinião, a combinação das recentes propostas como o IVA Zero com um discurso para os empresários é a síntese do Pedronunismo: um projeto de conciliação de classes com traços desenvolvimentistas.
CAMPANHA ELEITORAL OU ÉPOCA ALTA DO COMENTÁRIO?
Como tem sido uma constante dos últimos anos, o arranque da campanha tem sido feita de debates curtos e pouco esclarecedores, seguidos de painéis que dão notas aos participantes. Seguem-se discussões sobre cenários projetos por sondagens. Não surpreende que os debates venham a perder audiência. Como destacado no ano passado, os contornos da campanha vão seguindo o ritmo de uma telenovela.
OS LIBERAIS PERDERAM O FULGOR?
Tem sido notada por boa parte do comentariado uma fraqueza de Rui Rocha no espaço público. Com boa ou má prestação do seu líder, a fraqueza da Iniciativa Liberal não pode ser separada da perda de credibilidade do seu programa. Mudanças no contexto económico mundial comprometeram as histórias de encantar. Os casos internacionais que antes eram citados, da fiscalidade da Estónia ao sistema de saúde da Alemanha, não têm sobrevivido ao passar dos anos. O rumo intelectual para o continente americano, inspirado em Elon Musk e Javier Milei, tem causado alguns embaraços a Rui Rocha.
No ano passado exploramos a Irlanda, outrora a Estrela Polar dos liberais, que entretanto foi saindo da sua boca. As tendências exploradas no texto ajudam a perceber porquê.
QUAL O PROJETO DA DIREITA?
Com o ónus dos casos e casinhos a passar para a Direita, a imprensa parece assumir um novo papel no contexto português. Em particular o Expresso, David Dinis, o seu diretor-adjunto, tem apresentado uma postura particularmente dura face à Spinumviva. Esta posição difere da eleição anterior, em que o semanário estava muito mais inclinado para o jogo da Direita.
Não devemos celebrar este reposicionamento e confundi-lo com uma mudança de paradigma. Em especial, o Grupo Imprensa, do qual o Expresso faz parte, é uma das principais correias de transmissão do projeto da direita para o país. Uma revisão constitucional feita apenas pela direita é o grande prémio no qual esta põe os olhos. Mais do que uma viragem ao centro, a postura do Expresso mostra desconforto em ter Luís Montenegro como capitão do seu projeto ideológico.
JOÃO CRAVINHO (1936-2025)
Na passada quarta-feira, faleceu o engenheiro João Cravinho. O Presidente da República destacou a sua dimensão ética e luta contra a corrupção, remetendo para a sua participação política e cívica por volta da viragem do século.
Sem querer desvalorizar esse legado, destacamos que Cravinho foi o Ministro da Indústria e Tecnologia do IV Governo Provisório (1975), de Vasco Gonçalves. Um papel histórico, que como João Rodrigues relembra, Cravinho nunca renegou.
Na entrevista que conduzimos com Ricardo Noronha, este classificou Cravinho como “provavelmente, o intelectual orgânico mais consistente” de uma geração de “tecnocratas do Estado Novo, críticos da sua política industrial“.
Para a família e amigos, os nossos pêsames.
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