Tradução | Michel Houellebecq: O Oráculo Infeliz
Nesta peça de Anton Jäger o autor com uma queda para extrema-direita é comparado a um saudosista da monarquia Bourbon
Face ao recente sucesso eleitoral do Chega, Pedro Pinho afirmou que “o sistema já está a tremer”. À semelhança das outras forças da extrema-direita europeia, o partido fundado por André Ventura consegue ser visto como uma ameaça ao sistema político mesmo sem representar uma visão palpável do que propõe para a sociedade. Com uma campanha marcada por momentos de má disposição de André Ventura com contornos teatrais, o Chega conseguiu chegar a aproximadamente 1,3 milhões de eleitores, mais de um quinto do eleitorado português.
Nesta peça que traduzimos de Anton Jäger, historiador do pensamento político, a controversa figura de Michel Houellebecq e o seu flirt com a União Nacional - o partido de extrema direita francês - são usados como exposição da projeção de uma extrema-direita que promete abanar os poderes instalados com uma agenda vaga e repleta de incoerências. Houellebecq, talvez um dos mais interessantes críticos do liberalismo atual, é comparado ao escritor do século XIX Honoré de Balzac - um reacionário partidário da restauração da dinastia Bourbon numa França rasgada por revoluções.
À semelhança de Balzac, as suas observações falham o traçar de um rumo para o futuro enquanto abanam o presente.
Michel Houellebecq: O Oráculo Infeliz
O ano de 2010 foi um bom ano para Michel Houellebecq. Em novembro, quando as insurreições por falta de alimentos eclodiram no Norte de África e se estenderam ao Sul da Europa, o seu romance O Mapa e o Território ganhou o Prémio Goncourt, o mais prestigiado de todos os prémios literários franceses. Nos meses que seguiram, a sua sátira ao mundo da arte contemporânea chegou ao topo das listas de best-sellers francesas, acumulando centenas de milhares de exemplares vendidos, e deu por fim a Houellebecq o reconhecimento público que há tanto tempo procurava. Houellebecq resumiu o ano com a sua pose relaxada: “Em 2010, ganhei o Prémio Goncourt, a França não se saiu muito bem no Campeonato do Mundo e a Apple lançou o iPad.”
No início de 2011, porém, o brilho literário de Houellebecq foi roubado por um concorrente improvável - um panfleto de vinte páginas escrito por um veterano da resistência francesa de noventa e três anos chamado Stéphane Hessel. O seu Indignez-vous! (“Tempo de Indignação!”) tocava num ponto profundamente não-Houellebecqiano, apelando aos cidadãos ocidentais para se revoltarem contra as suas elites e impedir um deslize para o apartheid económico. “Há coisas neste mundo”, dizia Hessel, “que são inaceitáveis”, enquanto “a pior perspetiva possível é a indiferença”, que priva de uma qualidade humana elementar: “a capacidade e a liberdade de se sentir ultrajado”.
O golpe foi impiedoso e rápido: o manifesto de descontentamento de Hessel vendeu quinhentos mil exemplares nos primeiros meses e, depois, emprestou o seu nome ao movimento internacional dos “Indignados”, que já tinha invadido as praças das cidades europeias durante o verão, na sequência da Primavera Árabe. Ambos os movimentos destacaram-se como produtos tardios da crise financeira de 2008, que desencadeou crises cambiais no Norte de África e ultimatos sobre a dívida pública no flanco sul da Europa. Para alguns observadores, a derrota de Houellebecq para Hessel tem um carácter irresistivelmente simbólico: o avô indignado ultrapassa o cínico de meia-idade. “Numa altura em que este oráculo sinistro, com a sua França neurasténica e museológica, está em ascensão”, contava um jornalista francês, este “pequeno livro surpreendente ... está no topo das tabelas de vendas”. No início da era populista, um protótipo literário dos anos 1990 e 2000 - décadas marcadas por uma relativa quietude política - estava a morrer, politicamente e comercialmente.
Tardiamente, a nova sensibilidade da época começou a infiltrar-se na obra de Houellebecq. Nos anos seguintes, houve menos livros sobre artistas fraudulentos e eremitas e mais sobre ativistas e agricultores enfurecidos. Em 2015, o protagonista do seu romance Submissão - a narração de Houellebecq de uma tomada de controlo islâmica de França, com ofertas de casamento poligâmico a professores e vigilantes do vício a patrulhar as avenidas parisienses - olhou para trás, para um mundo em que “as eleições não podiam ter sido menos interessantes” e “a mediocridade das ‘ofertas políticas’ foi quase surpreendente”. Em 2019, o romance de Houellebecq, Serotonina, mostrava um grupo de agricultores rebeldes a atacar as forças policiais na autoestrada francesa e personagens a contemplar em voz alta a saída do seu país da União Europeia. Na sua última obra, Aniquilação, uma irmã de extrema-direita da personagem principal entra e sai das páginas com lamentações sobre as raízes nativas perdidas de França. No sismógrafo do escritor, registava-se o encerramento de uma era histórica; o populismo tornou-se uma força histórica a ter em conta.
O tempo passa depressa na década de 2020. Cinco anos depois de Serotonina, a vaga de protestos da década de 2010 esvaziou-se. O populismo de esquerda, que Hessel ajudou a criar, parece também uma força gasta, enquanto a sua desejada “era da raiva” encontrou maioritariamente uma saída eleitoral ou extraparlamentar na extrema-direita ou instalou-se inofensivamente nos feeds das redes sociais. Entretanto, o gradiente de classes do Ocidente não se inclinou e a tensão geopolítica está a aumentar.
Nominalmente, neste novo ambiente, Houellebecq foi apresentado como um companheiro de viagem de uma internacional nacionalista de partidos de extrema-direita, fornecendo uma justificação literária, com visões de um colapso civilizacional iminente, para a reconquista nativista da Europa. Embora nunca tenha apelado ao voto em Marine Le Pen – apesar de ter estado perto de o fazer em 2013, segundo o seu amigo e tradutor inglês Gavin Bowd -, os seus romances sempre foram bem recebidos nos círculos de extrema-direita.
As recentes declarações públicas só vieram alimentar a desconfiança. Numa entrevista recente sobre a política francesa, Houellebecq pressagiou “uma revolta do povo contra as elites”, mas continua desiludido com as perspetivas de poder da extrema-direita contemporânea. Para Houellebecq, a estrela millenial da direita, Jordan Bardella, está tão “obcecado com a ideia de não dizer nada que possa ser mal interpretado que simplesmente não diz nada”, enquanto Marine Le Pen não é “nem muito inteligente nem muito competente”. Ainda assim, também se mostrou descontente com o bloco republicano que derrotou a União Nacional na segunda volta das eleições de julho passado, afirmando que “seria melhor se o conflito tivesse rebentado agora”.
Na sua vida privada, Houellebecq teve de suportar ansiedades muito diferentes. No inverno de 2022, o romancista foi contactado pelo KIRAC (Keeping It Real Art Critics), um coletivo artístico dos País Baixos com uma queda para exposições chocantes no sector cultural. Estabeleceram a sua reputação com documentários que ridicularizam negociantes, críticos e invasores ocasionais da cena das artes visuais e performativas. A sua posição como provocadores profissionais foi assegurada com o filme Honey Pot, de 2021, em que conduzem um ritual de humilhação de Sid Lukkassen, um membro proeminente do circuito da extrema-direita holandesa. Lukkassen responde a um pedido de uma jovem estudante de filosofia de esquerda que procura conciliar as tensões políticas do seu país ao dormir com alguem do outro lado - a esquerda encontra a direita no boudoir. Lukkassen não conseguiu demonstrar as suas capacidades como pretendente, tendo sido envergonhado por esse fracasso frente às câmaras em direto, e foi remetido para a clandestinidade temporária antes do lançamento do filme. Lukkassen, pelos vistos, também tinha celebrado os romances de Houellebecq como manifestos visionários para uma Europa à beira do suicídio racial.
O envolvimento do próprio Houellebecq no KIRAC não foi menos desastroso. Depois de ter publicado o que diz ser o seu último romance, foi-lhe pedido que participasse numa experiência sexual controlada com a estudante que primeiro atraiu Lukkassen, bem como com a mulher de Houellebecq e outro voluntário. Houellebecq aceitou, mas afirma não saber que o realizador planeava divulgar o material resultante. A sua prova de resistência foi agora registada num pequeno livro de memórias, Alguns Meses na Minha Vida.
O livro destaca-se como uma das contribuições mais duradouras de Houellebecq, impulsionado por uma franqueza ingénua e um sentido sincero de tragédia ausentes dos seus escritos posteriores, em particular no que diz respeito à sua iniciação traumática nas práticas sexuais contemporâneas. “Ao contrário do que se esperava”, observa, “o OnlyFans não é um site gratuito”. As mulheres que o levaram a um estado de “debilidade quase perfeita” no esquema do KIRAC têm atribuídas alcunhas esópicas como “A Truta” e “A Galinha”. Um profundo desinteresse pela esfera pública contemporânea também é evidente neste livro de memórias, o que não é alheio à distância de Houellebecq para com a frente republicana da esquerda francesa. Com nojo face ao comportamento no cenário do KIRAC, Houellebecq denuncia as perversões da pornografia, o declínio moral do Ocidente e a impotência das elites europeias.
Felizmente para Houellebecq, este ganhou um processo contra o KIRAC, o que lhe concedeu direitos de inspeção antes da publicação final do filme. Houellebecq limitou-se a interpretar todo o episódio como mais uma prova da decadência corrosiva do mercado livre que tem animado a sua obra desde o início dos anos 90, e que o colocou muitas vezes na incómoda companhia de críticos marxistas.
Esta companhia suscita frequentemente uma pergunta igualmente indecorosa. Poderá Houellebecq ser não só um santo padroeiro literário da extrema-direita, mas também o maior romancista marxista vivo no presente? À partida, a pergunta parece absurda, e as comparações mais convincentes foram feitas com as suas próprias inspirações declaradas: o escritor de terror H. P. Lovecraft, o simbolista francês Karl Huysmans, o pessimista Arthur Schopenhauer e o profeta do positivismo do século XIX, Auguste Comte, cujos pensamentos sobre religião Houellebecq tem frequentemente referido nos seus momentos mais melancólicos. Já em 1998, afirmava que “as necessidades sexuais parecem-me hoje muito mais urgentes do que as necessidades espirituais; mas, partindo do princípio de que estas são satisfeitas e de que as necessidades espirituais surgem em consequência, será do nosso interesse, quando chegar a altura, de mergulhar de novo em Comte, cujo verdadeiro tema, o seu grande tema, é a religião”. Um tema unificador é claro: todos estes escritores que se debruçaram sobre a religião na passagem para a modernidade são referências prováveis para a escrita de Houellebecq.
Visto a partir da esquerda, porém, uma leitura diferente é possível: Houellebecq não como um expoente do positivismo de Comte ou do gótico racista de Lovecraft, mas como um contemporâneo de Honoré de Balzac, o escritor realista conhecido pelos seus retratos da alta sociedade burguesa da primeira metade do século XIX, autor de A Comédia Humana e de outros clássicos. De facto, o primeiro a fazer oficialmente a comparação foi o próprio amigo de Houellebecq, Bernard Maris, antigo economista e vítima do ataque salafita ao Charlie Hebdo em 2015. No seu livro Houellebecq Économiste, Maris afirma que “tal como Balzac foi o cronista da burguesia conquistadora e de um capitalismo primitivo triunfante, Houellebecq é o grande romancista da mão de ferro do mercado e de um capitalismo cada vez mais em vias de extinção”, enquanto o autor Ryan Napier vê Houellebecq a escrever, “na era do domínio total [do capitalismo]”, uma “visão ficcional [que] só poderia começar no fim da História”.
Enquanto Balzac relatou a ascensão da burguesia após a revolução de 1789, Houellebecq pintou o vazio social criado pela chamada segunda revolução de 1989, em que um novo capitalismo global alcançou o seu incómodo triunfo por todo o mundo. Como observou o crítico literário Peter Brooks em 1999 sobre o “monarquista que os marxistas podiam amar”, Balzac também “teve a vantagem de viver numa época de revolução, o que tornou o desaparecimento da velha ordem fortemente percetível”. Ambos eram críticos vitriólicos da nova sociedade, com um amor interminável pela antiga. Para Balzac, era a antiga aristocracia e os reis; para Houellebecq, os partidos comunistas, os padres das aldeias e os políticos gaullistas. “É verdade que o Partido Comunista já não é o que era”, afirmava este último, em 1994, embora “um país cuja população empobrece, que sente que vai empobrecer cada vez mais e que está convencido de que todas as suas desgraças provêm da concorrência económica internacional” merecesse mais. Ambos provinham de meios relativamente modestos – a insígnia aristocrática “de” foi confecionada pelo próprio Balzac, enquanto Houellebecq se orgulha de não partilhar as credenciais da cidadela parisiense que agora habita.
As analogias não terminam aqui. Nos anos 1830-40, quando Balzac escreveu, o meio dominante de ação social era a petição, o motim e a marcha de rua, numa cultura política de esquerda que ainda não estava organizada em torno de sindicatos, partidos ou grandes organizações associativas, como observou Daniel Zamora. A confusão e o medo do lugar caracterizam de ponta a ponta os seus romances, com um colapso da ordem social e uma procura frenética de estatuto. No entanto, pelo menos para Balzac, o mundo estava impregnado de um sentido de cor sociológica; este era um mundo de indivíduos enquanto membros de classes, e não as “partículas elementares” isoladas dos primeiros romances de Houellebecq.
Existem precedentes para uma avaliação marxista de um reacionário literário. Como Friedrich Engels disse numa carta a um amigo inglês, Balzac era “um mestre do realismo muito maior do que todos os Zolas do passado, do presente e por chegar”, chegando mesmo a afirmar que tinha aprendido mais com Balzac “do que com todos os historiadores, economistas e estatísticos credenciados da época juntos” - mesmo que “fosse politicamente um Legitimista” a favor da restauração da dinastia Bourbon após a sua queda em 1830. Para Engels, a “grande obra de Balzac é uma elegia constante à inevitável decadência da boa sociedade, as suas simpatias são todas para com a classe condenada à extinção” como “povo que não merece melhor destino”. Como ele concluiu:
“O facto de Balzac ter sido obrigado a contrariar as suas próprias simpatias de classe e preconceitos políticos, de ter visto a necessidade da queda dos seus nobres favoritos e de os ter descrito como pessoas que não mereciam melhor destino; e de ter visto os verdadeiros homens do futuro onde, por enquanto, apenas estes eram encontrados - considero isso um dos maiores triunfos do Realismo e uma das maiores caraterísticas do velho Balzac.”
Um fatalismo artístico semelhante caracteriza os próprios escritos de Houellebecq, como Maris reparou. No entanto, a sua lucidez de visão é difícil de dissociar da sua política reacionária, como o tentaram desesperadamente alguns defensores esquerdistas dos seus romances. Precisamente porque Balzac era um estranho ao novo mundo depois de 1789 e um opositor da sua política liberal, foi capaz de discernir os seus contornos com muito maior clareza. Mas, tal como Balzac, também Houellebecq carece de instrumentos políticos para resolver esta crise. Lamenta o fim do velho mundo, incapaz de forçar a existência de um novo. Também isto se espelha no monarquismo desamparado de Balzac nos anos 1830- 40: a esperança de que a velha dinastia se renovaria, de que o antigo regime conseguisse construir uma coligação popular capaz de o fazer. Tal como Balzac exorta os monárquicos num panfleto de 1842, que faz lembrar as críticas de Houellebecq a Le Pen, “Hoje, as únicas armas que os monárquicos têm de pegar são as que o nosso século fabricou: a imprensa e a tribuna”, obrigados a aceitar uma rutura irreversível entre o passado e o presente.
A obra de Houellebecq oferece assim pistas para além da nossa época e sobre a própria extrema-direita moderna. Não existe um programa rival de governo, de renascimento ético ou de desglobalização. Sectores crescentes da classe trabalhadora ocidental, que têm dado o seu voto a partidos de extrema-direita, estão dispostos a apostar nestas alternativas retóricas ao liberalismo. Ao contrário dos anos 1920 e 1930, a ascensão da extrema-direita contemporânea é, em grande medida, uma função do fracasso do liberalismo, e não um sinal da força da esquerda - o nazismo e o fascismo, no fim de contas, só são podem ser observados como revoluções falhadas. À medida que esmagavam os movimentos laborais, Adolf Hitler e Benito Mussolini prometeram às respetivas elites nacionais o equivalente aos impérios coloniais que os seus concorrentes franceses e britânicos tinham adquirido há muito tempo - a ideia era quebrar muros, não erguê-los. Em vez de se expandir para o exterior, a extrema-direita de hoje quer proteger a Europa do resto do mundo, admitindo que o continente já não será protagonista no século XXI e que o melhor que se pode esperar é uma proteção contra as hordas. No romance de Jean Raspail, O Campo dos Santos de 1973, que serve de manual para a extrema-direita e é visto muitas vezes como um precedente de baixa qualidade dos livros de Houellebecq, o objetivo não é conquistar África, mas simplesmente manter os seus habitantes a sul do Mediterrâneo.
Esta tirania de baixas ambições define a abordagem internacional da direita, a começar pela própria União Europeia. Durante décadas, os seus partidos concentraram a sua ira nos constrangimentos antidemocráticos do bloco, chegando mesmo a defender uma saída da União – um gesto desafiante que agora desapareceu. Enquanto Hitler tentou quebrar a ordem anglo-americana e fazer uma tentativa ousada de liderança mundial, os novos autoritários europeus contentam-se em ocupar um nicho dentro da estrutura de poder existente - o objetivo é adaptar-se ao declínio, não revertê-lo. Neste último sentido, a nova direita europeia assemelha-se cada vez mais à latino-americana: intensamente pró-Estados Unidos e refém dos mesmos sistemas partidários voláteis, nos quais é difícil encontrar eleitores leais e instituições sólidas. Isto também se aplica à frente cultural: enquanto se lamenta sobre as guerras culturais importadas dos Estados Unidos, a nova extrema-direita europeia é mais americana do que nunca com as suas tiradas contra o “wokismo” e a “ideologia trans”, tal como o próprio Houellebecq é um participante desajeitado no mundo saturado de pornografia que a América criou. Tanto como escritor como como ideólogo, a lição da sua obra continua a ser a de que não há caminhos fáceis para fora do nosso desencanto para com o século XXI; nem o islamismo radical, nem o catolicismo cultural raivoso, nem o protecionismo de extrema-direita oferecem um consolo fácil no novo século.
O facto de o liberalismo ter ficado sem respostas não implica, de forma alguma, que os seus rivais estejam a fazer as perguntas certas. O velho pode, de facto, estar a morrer, como hoje nos recordam incansavelmente. No caso de Houellebecq, porém, nada está sequer a lutar para nascer e o futuro cheira mais a decomposição obstinada do que a renascimento súbito. Como Balzac observa na sua primeira obra publicada, a tragédia Cromwell, uma vez que um rei tenha perdido a cabeça, não há como recompor o corpo.
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