A clivagem entre os meios de comunicação e os problemas do país
O jornal Público decidiu publicar um balanço dos governos de António Costa, na forma de uma “radiografia em 10 indicadores”.
Costa foi primeiro ministro tempo o suficiente para merecer um balanço. Infelizmente, o trabalho Público demonstra uma profunda divergência entre o debate político-económico e os problemas reais do país.
É normal que num trabalho baseado em 10 indicadores existam sempre aspectos relevantes de fora. No entanto, a falta referências à habitação, o falhanço político dos executivo de Costa, ronda o chocante.
Horas antes, o mesmo jornal publicou um artigo que aponta para o agravar da crise durante os governos Costa.
O próprio primeiro ministro chegou a reconhecer a meio do mandato que este desafio era central. Prometeu 26 mil casas para os 50 anos do 25 de abril, criou o ministério da habitação, foi criado o pacote Mais Habitação. Mesmo com estas preocupações (mesmo que ineficazes) de Costa, o Público optou por olhar para indicadores como o abadono escolar, que atingiu mínimo históricos ao continuar a tendência de governos anteriores.
O Público fixa-se no crescimento da economia e enfatiza a dependência que este tem do turismo, mas escolhe ignorar o processo gémeo que foi o disparar dos preços da habitação. Em vez disso, optar por bater na tecla das comparações sem contexto para com os países do Leste Europeu, características da Iniciativa Liberal e do seu Think Tank “apartidário”.
A atual crise na habitação, que coloca pessoas a viver na rua, limita a capacidade de recrutar trabalhadores para as escolas e SNS, não pode ser ignorada quando se fala do legado de António Costa. Esta é central para entender o mandato de quase oito anos.
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